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Loose Parts Play: liberdade, criatividade e conexão no brincar na natureza
17 Setembro 2025

Loose Parts Play: liberdade, criatividade e conexão no brincar na natureza

Loose Parts Play: liberdade, criatividade e conexão no brincar na natureza

"As crianças, quando brincam com materiais soltos, entram num mundo de probabilidades e incertezas que desenvolve o pensamento crítico, a resolução de problemas e o raciocínio."
— Madalena Cancela, dissertação de mestrado, 2021

 

 Num tempo em que o brincar livre tende a ser substituído por atividades estruturadas e brinquedos com funções pré-definidas, a abordagem pedagógica do loose parts play surge como uma lufada de ar fresco. Este conceito, nascido na década de 70 pelas mãos de Simon Nicholson, defende que “todos são criativos” quando têm à sua disposição elementos variáveis — paus, pedras, cordas, tecidos, objetos reutilizáveis — com os quais podem interagir de forma aberta, livre e sem guião.

A educadora Madalena Cancela aprofundou esta temática no seu estágio de Mestrado em Educação Pré-Escolar, realizado numa instituição que valoriza o espaço exterior. A sua investigação visou perceber como os loose parts influenciam as brincadeiras das crianças, as suas interações sociais e o papel do educador nesta dinâmica.

 

O que são afinal os “loose parts”?

"Loose parts são materiais que as crianças podem transportar, combinar, reorganizar, juntar, separar e atribuir significados diversos de formas quase infinitas."
— Daly & Beloglovsky (2015), cit. in Cancela, 2021

São elementos naturais ou reutilizáveis (como conchas, rolos de cartão, caixas, pedras, tecidos, utensílios, tábuas ou pneus) que não têm um propósito fixo. São o oposto dos brinquedos fechados e pré-programados. Por isso mesmo, estimulam a imaginação, promovem a liberdade de criação e permitem que cada criança explore o mundo à sua maneira.

 

Porquê trazer os loose parts para a educação de infância?

"A exploração de loose parts promove uma grande variedade de tipologias de jogo e provoca interações cooperativas em grupo."
— Madalena Cancela, dissertação de mestrado, 2021

Ao longo da sua investigação, Madalena observou um aumento claro na diversidade de brincadeiras. As crianças exploraram jogos simbólicos, sociais, dramáticos, de risco, de construção e muito mais. A simples presença de materiais soltos transformou o espaço exterior num verdadeiro laboratório de criatividade e cooperação.

Além disso, verificou-se um crescimento das interações sociais positivas: as crianças cooperaram para transportar objetos, partilharam ideias para construir estruturas, negociaram regras e resolveram conflitos. Estavam mais envolvidas, mais ativas e mais autónomas.

 

E o papel do educador? Mediar sem controlar.

"É fulcral observar as brincadeiras, explorar os interesses, planear o espaço, selecionar e introduzir materiais, e dar autonomia às crianças para arrumar e cuidar dos mesmos."
— Madalena Cancela, dissertação de mestrado, 2021

Neste modelo, o adulto assume o papel de observador atento e mediador sensível. O educador prepara o ambiente, escuta as crianças e confia nas suas capacidades. Não se trata de dar ordens, mas de criar as condições certas para que o brincar floresça. Isso inclui tempo, espaço, liberdade e materiais ricos e desafiantes.

 

Brincar na natureza: onde tudo se liga

"O espaço exterior é um contexto educativo privilegiado que proporciona experiências sensoriais, motoras, emocionais e cognitivas fundamentais para o desenvolvimento da criança."
— Lopes da Silva et al., 2016, cit. in Cancela, 2021

O espaço exterior é uma sala de aula viva onde o corpo e a mente se encontram, onde as crianças ganham autonomia, coragem e conexão com o mundo natural. O loose parts play nesse ambiente ganha uma dimensão ainda mais rica: uma pedra pode ser um prato, uma tábua pode ser uma ponte, e uma árvore é sempre um convite à aventura.

 

Para refletir e inspirar…

"Brincar é criar laços. Com os outros, com os materiais, com a natureza e consigo mesmas."
— Neto, 2020, cit. in Cancela, 2021

Loose parts play é uma abordagem educativa com fundamento, ética e intenção. Valoriza a escuta da criança, a liberdade de brincar e o contacto com o mundo real. Trazer esta prática para os contextos educativos é um ato de confiança: na criança, no processo e na potência do brincar.

 

Para consulta da dissertação: http://hdl.handle.net/10400.12/8456 

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